Foto by Jennifer Glass

sexta-feira, 19 de maio de 2017

RESTOS



Mais um adeus se fez entre lágrimas, enquanto o gosto da solidão amargava o céu da boca.
Outro precipício à procura das asas perdidas uns catorze romances atrás.
Fundo do copo, mágoas afogadas no álcool tapam o buraco com a peneira.
Escorre esperança pelo ralo, corações rasgados em pedaços sangrados.
Dilacera a vontade de ser mais alguém.

Enquanto a sorte não vem, azar.

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

RASGADO

"Não gosto do seu passado." Pois é, tem partes que também não gosto muito, mas essas partes me construíram e sou o que consigo ser por enquanto. Tento aprimorar a convivência com humanos. Repasso o passo a passo do que passei na cabeça tentando encontrar excesso de sentimento. Está por toda a parte. Intensidade é meu forte. "Ah, mas você não pode ser assim." Ai de mim, que tanto pulso, que nada sei. Também, quem mandou nascer artista? Podia ter vocação para outra coisa que não a poesia. Matemática, ciências, tecnologia... medicina! Poeta não serve para nada, a não ser para enfeitar as palavras e metaforizar a vida. Aqui em São Paulo, cada dia mais cinza... Rimas bonitas não são arte o suficiente. "Escreve uma série e vende para a TV." Ninguém quer saber de sentimentos. O importante é ter dinheiro. Pagar as parcelas dos cartões e dormir em quartos estilosos com seus chandeliers carérrimos e retratos posados para o fotógrafo da moda.
Nada disso me emociona, mas o toque da sua pele sai faísca, sua boca na minha...
Perdida em contradições sem razões de serem, tremo inteira e fico sem palavras na sua presença. Ausente de mim mesma, imploro que perceba que o silêncio já causou danos demais. Não sou capaz de alimentar essa chama sozinha. Se o problema sou eu, me deixa na minha. Esquece que precisa quebrar essa casca, continua em casa, trabalho, noitadas sem graça, pessoas rasas. Leva seu relógio mais caro e arruma uma namorada bela, cheia de recatos. Compra outro carro, um apartamento no centro. Ganha bastante dinheiro. Só não vem falar que faço tudo errado. Sou feliz do meu jeito, chorando cada lágrima que brota em meu olho. Nem adianta tentar me condenar por meu exagero, pois ele me transforma, e se agora eu sinto muito, amanhã não sinto nada. Então tira logo essa máscara, antes que você fique esquecido nas memórias que temos quando lemos a poesia e lembramos do momento em que ela foi escrita.