Foto by Jennifer Glass

terça-feira, 22 de abril de 2014

Meia noite no Pari

Volto de um ensaio de Hedda Gabler, e um senhora senta ao meu lado no metrô. Depois de me observar lendo o texto e as notas da direção, ela começa a dizer "é uma libertação esse fim de Eilert Lovborg" eu fico atônita. É uma das falas finais de Hedda, na cena antes dela cometer suicídio, e eu estou estudando o começo da peça, a cena de Hedda com Sra. Elvsted. 
Olho bem para ela e a reconheço: Nydia Licia Pincherle. Por um instante me hipnotizo por aqueles olhos azuis. 
Ela me pergunta: O que vai fazer agora? 
Não sei o que responder, estou cansada e o ensaio foi só esculacho do diretor. Ele não gosta de mim. Respondo: Queria ir para casa chorar. 
Ela segura minha mão e fala: Vem comigo, você vai se sentir muito melhor. 
Descemos na estação Armênia e começamos a andar em direção ao Pari. Entro no que parece ser um galpão, e lá dentro vejo um palco montado. Um homem più bello passa por mim. É o Walmor Chagas, com seus 35 anos. Nydia me pede para sentar e esperar um pouco que ela já volta. De repente o galpão começa a ficar cheio de gente, todos me olham meio esquisito porque estou de jeans, regata e all star. As pessoas estão extremamente arrumadas e bem vestidas. Toca o primeiro sinal, ainda não estou entendendo nada. Olho para um homem sentado ao meu lado e ele tem um programa de Hedda Gabler nas mãos. A foto da capa é da Nydia moça.  Olho bem para o homem. É o Celi! Meu coração vai na boca. Uma mistura de medo e excitação corre em meu corpo. Toca o segundo sinal. Penso se estou morta, eu bem que desejei me atirar nos trilhos do metrô depois daquele ensaio catastrófico. Concluo que devo, então, ter me atirado. Mas não sinto dor. Não estou toda ralada. Só um pouco descabelada. E com a maquiagem borrada por não ter conseguido conter as lágrimas. Toca o terceiro sinal, todos na platéia continuam esperando, a cortina não se abre. Toca o quarto sinal, toca o quinto sinal... O sinal não tem um som de campainha, ou sino, é um sinal diferente de todos que já ouvi no teatro. Toca o sexto sinal, toca o sétimo sinal. Tem um som de bip. Oitavo, nono, décimo, nada acontece. Décimo primeiro, décimo segundo. Acordo!
Decido nunca mais comer rabada com batatas antes de dormir.

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