Foto by Jennifer Glass

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Habilidade ou Como Aprender a Gozar a Vida

Enquanto emudeço pés descalços sangram
O ritmo é outro
Palavras se escondem no âmago
Armadura para a vida
Arnica para as feridas
Avidez leva à resiliência
Puxa saco, bate palma, joga rosas
Conivência hipócrita
Nos calabocas sutis calabouços
Os doidos emprestam loucura
Tapando rachaduras com sensatez
Mas você tem que ser alguém
Você tem que ter
O amarelo, o vermelho, o prêmio, o dinheiro
Pelo menos tem que estar no galinheiro
Ciscando as migalhas
Fingir achar beleza nas máscaras retorcidas
Não ser mais um sincericídia

sexta-feira, 15 de maio de 2015

CICLO VICIOSO

Quando o que sobra são casacos costurados aos corpos, nenhum corpo se completa, e mesmo que se tente a fundo sempre há empecilho. Se o tempo passa fica difícil, e nada mais tem graça, nem mesmo o verde da parede de fundo onde seu mundo entra no meu. Morfeu não vem, e eu já tomei mais de cem pílulas em gotas. Esperar - meu coração vai na boca. O medo de estar sozinha no silêncio do quarto frio deixa alerta. De perto ninguém é anormal. Enquanto um chora, outro ri, tá tudo equilibrado. No final, carregar cadáveres pesados no carrinho. Carinho tem de sobra, paciência nem tanta. É outra a questão que me deixa afoita, que faz bater uma onda. Quando emociona desmonta a força e segue cambaleando noite afora. Agora resta ser normal, mais ou menos igual aos tantos que olho passar pela janela. Aquela sensação adstringente na garganta, os caminhos não tem mais volta. Importa o que você pensa, importa o que me peça. Só estou tentando impedir o amor de sangrar mais um pouco, enquanto continuas louco descarregando encomendas nos portos. 

domingo, 3 de maio de 2015

VÍSCERAS

Devo dizer que ando sentimental ao extremo. Primeiro porque tive outro pneumotórax, que remexeu todas as minhas emoções. Segundo, eu não sei porque... 
Me feri, estrepei, e sem saber como, estanco o sangue que ardia. Não consegui ser diferente, ou indiferente, como preferir chamar. Emociono, corro riscos. Nem ouso questionar o que sinto, já que sentimentos meus vem de uma só vez, e, mesmo quando vem aos poucos, vem ariscos. Acelerados (no nosso caso em direção ao atraente tormento que são suas retinas e as faíscas que saem quando nos tocamos). Não nego meu gosto que é teu e teu gosto que permanece em mim. Enquanto nas águas tortuosas nado torto, ilogicamente nasço de novo, num amor ou num gozo, sopro de vida da emoção à flor da pele. Tenho um puta medo do sentimento que leva, de seus desdobramentos. Tento permanecer alheio, escondido atrás de uma conveniência covarde. Sem fazer alarde, minha cota de covardia foi gasta quando permiti arrancarem de mim as pernas (para quem não sabe do que falo, o palco). Daí penso que o resto posso jogar para o alto, porque é só mais um dia a dia. É mais rotina. Então vou fundo, sem pensar no futuro ou mesmo em consequências. O amor tem consequências? O que pesa na consciência não serve para mim. Não vivê-lo resulta em amarguras futuras. Já fiz muita coisa errada, já fiz muito mal à mim mesma, e, com certeza, aos outros. Hoje quero recolher os cacos espalhados, espelhos de uma alma que tenta viver e amar antes que a morte leve para o verdadeiro buraco.
Sem sofrência, a realidade escancarada dói, mas passa.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

IMPREVISTO

trancado 
peito eufórico
silêncio e desejo
acomodados
medo
do que há por vir
ainda aqui
sem sair do lugar
nadar nas marés calmas
mas não é mar
é lago
largo tudo
no escuro da gaveta
e me culpo
em ocupar meu tempo
com coisas bestas
prometo foco
falta pouco
no entanto
tanto...

se a porta abre a covardia fica de lado
não cabe qualquer atraso
mas a porta ainda está fechada
com a chave quebrada dentro da fechadura

segunda-feira, 16 de março de 2015

QUANDO A FOME ENCONTRA A VONTADE DE COMER VOCÊ

Beijo cálido
Atravessa a noite que acordo molhada
Suor, saliva
Lasciva ameaça à calmaria
Atravessa a alma
Gosto doce
Aquece
Hora passa
Agora descamba o que sobra
Suas marcas
Carne
Língua
Longe escorre desejo
Frio na barriga
Disposta a apostar no gozo outra vez


terça-feira, 3 de março de 2015

ATAQUE DE NERVOS OU CIÁTICO NERVOSO OU AINDA AMOR SÓLIDO QUE NÃO É PAÇOCA

Talvez seja a quantidade de fármacos* ou de agulhadas que tomei, talvez seja o barulho de você lavando minha louça enquanto canta Beatles baixinho, mas uma onda de amor e saudosismo tomou conta de mim. Me lembrei da primeira vez que foi embora, aquele olhar prometendo me amar para sempre e por outras vidas também. O que te trouxe aqui hoje -e todas as vezes- é igual ao que te trouxe para mim da primeira vez que nos vimos. Você lembra? Eu estava tão descabelada e desencanada e desprovida de olhar para outra pessoa senão eu, e mesmo assim você me amou! Me amou à primeira vista mesmo, e eu te disse que não acreditava nessa bobagem. Pois paguei minha língua. Liberdade, companheirismo, respeito e maturidade. Muito amor. Vontade de comer a carne e a alma. O olhar atencioso e protetor que nunca podou nenhuma das minhas loucuras! Você sempre as apoiou! E quando me deu aquela bronca dizendo que eu podia ir muito mais fundo como artista, quando amou minha poesia. E quando me ama no dia a dia com toda a controvérsia que parte de mim, com todos os meus deslizes e com toda a minha falta de tato e verborragia. E mesmo quando mando você ir pro inferno, sempre nos cenários mais esdrúxulos, você me beija com mais paixão! (Nessa hora meu coração deve bater umas mil pulsações por segundo!!!) Sei que vai embora de novo. Para ser mais precisa em dezoito dias tudo volta ao (a)normal. Os planos para o futuro estão no mundo sonhos. No dia a dia não é tão fácil se livras das armadilhas do nosso ego. Fotografo em minha alma essa imagem sua lavando minha louça depois de cozinhar o jantar, meu parceiro, gentil cavalheiro que és. Eu quero te amar, sem máscaras nem amarras. Se meus nervos estão à flor da pele, você é aquele que acalma, e SIM, me faz ver que existe amor na patética São Paulo. Você é entrega! Você me inspira! Tchau, amor amigo! Arrivedercí! Vou me despedindo porque os últimos meses foram intensos, e quero sorver nossas despedidas, para que na calmaria eu consiga não perder o foco. Aprendo paciência- necessário!- e me aceito como sou. Amor, sendo amor, amando! Nada de pouco a pouco. Aqui é muito a muito!! Emoticon heart
Obrigada, obrigada, obrigada! Te amo e amo que sempre está aqui. Presente na minha poesia! Emoticon heart
— ouvindo The Beatles à capela, e o barulho da louça limpa sendo colocada no escorredor.