Foto by Jennifer Glass

sexta-feira, 15 de maio de 2015

CICLO VICIOSO

Quando o que sobra são casacos costurados aos corpos, nenhum corpo se completa, e mesmo que se tente a fundo sempre há empecilho. Se o tempo passa fica difícil, e nada mais tem graça, nem mesmo o verde da parede de fundo onde seu mundo entra no meu. Morfeu não vem, e eu já tomei mais de cem pílulas em gotas. Esperar - meu coração vai na boca. O medo de estar sozinha no silêncio do quarto frio deixa alerta. De perto ninguém é anormal. Enquanto um chora, outro ri, tá tudo equilibrado. No final, carregar cadáveres pesados no carrinho. Carinho tem de sobra, paciência nem tanta. É outra a questão que me deixa afoita, que faz bater uma onda. Quando emociona desmonta a força e segue cambaleando noite afora. Agora resta ser normal, mais ou menos igual aos tantos que olho passar pela janela. Aquela sensação adstringente na garganta, os caminhos não tem mais volta. Importa o que você pensa, importa o que me peça. Só estou tentando impedir o amor de sangrar mais um pouco, enquanto continuas louco descarregando encomendas nos portos. 

domingo, 3 de maio de 2015

VÍSCERAS

Devo dizer que ando sentimental ao extremo. Primeiro porque tive outro pneumotórax, que remexeu todas as minhas emoções. Segundo, eu não sei porque... 
Me feri, estrepei, e sem saber como, estanco o sangue que ardia. Não consegui ser diferente, ou indiferente, como preferir chamar. Emociono, corro riscos. Nem ouso questionar o que sinto, já que sentimentos meus vem de uma só vez, e, mesmo quando vem aos poucos, vem ariscos. Acelerados (no nosso caso em direção ao atraente tormento que são suas retinas e as faíscas que saem quando nos tocamos). Não nego meu gosto que é teu e teu gosto que permanece em mim. Enquanto nas águas tortuosas nado torto, ilogicamente nasço de novo, num amor ou num gozo, sopro de vida da emoção à flor da pele. Tenho um puta medo do sentimento que leva, de seus desdobramentos. Tento permanecer alheio, escondido atrás de uma conveniência covarde. Sem fazer alarde, minha cota de covardia foi gasta quando permiti arrancarem de mim as pernas (para quem não sabe do que falo, o palco). Daí penso que o resto posso jogar para o alto, porque é só mais um dia a dia. É mais rotina. Então vou fundo, sem pensar no futuro ou mesmo em consequências. O amor tem consequências? O que pesa na consciência não serve para mim. Não vivê-lo resulta em amarguras futuras. Já fiz muita coisa errada, já fiz muito mal à mim mesma, e, com certeza, aos outros. Hoje quero recolher os cacos espalhados, espelhos de uma alma que tenta viver e amar antes que a morte leve para o verdadeiro buraco.
Sem sofrência, a realidade escancarada dói, mas passa.