Foto by Jennifer Glass

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

VERBORRÁCIA

sofro 
do mal 
soltar palavras
preciso é
apre(e)nder
prendê-las

Nêgo Amô

fecho os olhos
vejo teu corpo
lembro teu cheiro
sinto teu gosto
gosto tanto de ti
e ainda assim
te esqueço
às vezes por horas
dias
milênios
mas volto sempre
ao teu silêncio
lamento ser tão fechado
mas do seu lado
me liberto de tudo
quando me abraça
para o mundo
as horas passam
em um segundo
quando demora
estarmos juntos
tento esquecer-te
me confundo
então apareces
mudo de ideia
caio na velha armadilha
que entrei um dia
quando beijei sua boca
pela primeira vez...

domingo, 25 de agosto de 2013

Banheiros Pequenos Estilizados

Nada parece o que é
Coloque uma parede de gravuras
Pinte de uma cor mais escura
Ou mais clara se assim quiser
Troque o vaso sanitário
É lá seu trono
Rei do esfíncter
Enquanto está sentado
Imaginando loucuras
Com o multimóvel
Que vê na revista
O que pode fazer
O Rei Sentado
Esperar algo mais
Ou continuar chafurdado
Produzindo 
Materialmente
Um monte de dejetos
Como este poema
Ou o trabalho de uma vida
Tudo o que todos consideram
Obra criativa
Ficar imóvel
Esperando a galinha botar o ovo
E lá vou eu de novo
Me perder em metáforas...



segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Pássaro de fogo

Nesse céu voava um pássaro
cada vez mais alto
dava piruetas e caia
em queda livre livre.
Quase no chão 
batia as asas,
não morria. 
Lá de cima tudo era pequeno.
Irreconhecível
Voava alto, passarinho!
Deixava a dor de não se deixar tocar.
Nesse céu, em pleno voo
estava.
Não enxergava com clareza
mas se deixou enxergar.
"Ouve a melodia
Vê o dia beijar a noite
Coisa mais bela não há"
Pássaro de fogo
Porque se deixou aprisionar?
Sua beleza morreu.
O voo, antes livre,
agora consiste
em oito metros quadrados 
no viveiro do seu caçador
Pássaro de fogo não brilha mais...
Tenta escapar.
Um dia desatento
o caçador abriu um vitrô.
Pássaro de fogo escapou...
Caçador quis morrer.
Ama aquele pássaro
com todo seu poder.
Mas pássaro desaprendeu a voar sozinho.
Procurou seu ninho em vão.
Não foi muito longe,
não passou do portão.
Pensou que estava livre
e começou a cantar.
Ah, pássaro de fogo!
Porque foi chamar atenção de seu dono?
Agora te engaiolou de novo,
nem mais no viveiro podes ficar.
Na gaiola sozinho,
pássaro agora canta
a triste melodia
da lembrança de um dia
quando podia voar.

domingo, 18 de agosto de 2013

Lyra Dialética

Sem rodeios, não consigo não ser direta... 
Quando guardo uma impressão por amor, ou pena, dói a minha alma. 
Dissimulando a calma em gestos românticos, minha mente trabalha o oposto. 
Inquietudes à parte, não consigo apenas tatear o raso. 
Mergulho nas profundezas sentimentais e gosto. 
Não me preocupo, não me afogo em mágoas. 
Aprendi a nadar nessas águas tortuosas. 
Desgostos, desmazelos, desencanações à parte, quem sabe na próxima encarnação eu não nasça fria? 
Seria uma alegria! 
Afinal, não sentir nada e permanecer na superfície é muito mais seguro. 
Para o futuro pretendo continuar assim mesmo. 
Amando, sempre, mergulhando de cabeça. 
E, antes que eu me esqueça, tenho certeza que mereço o que gosto. 
Gosto de pessoas divertidas, carinhosas e sinceras. 
O resto passo >>

Quando o Dia Termina Começa a Noite

Não gosto de pensar que teria acontecido
se eu tivesse agido de outra maneira.
Se outros caminhos, 
outras escolhas.
Menos cálido,
mais geladeira.
Não faço adivinhação.
Quem adivinhava as coisas
era minha bisavó.
(com sua técnica infalível! )
Mas eu não.
Nasci para criar,
descobrir portas, adentrá-las.
Não uma só, várias...
Transcender, pulsar,
transbordar emoções e afeto.
De fato, às vezes trilho o caminho errado.
Nada que eu não possa parar
e perguntar 'como volta'?
(o amor como combustível!)
e volto ao marco zero!
Sem nada, só a alma.
Isso não me afeta.
Se for pensar bem,
qual estrada da vida é a estrada certa?

 — se sentindo Curiosa em descobrir onde vai dar a estrada que começa atrás da próxima porta.

sábado, 17 de agosto de 2013

Sobre o Amor e a Posse

O amor. O que é o amor? O que brota em nós que nos faz perder as estribeiras, ou encontrá-las? Uma tênue linha tecida no dia a dia. Desejar tanto um ser que quer colocá-lo numa caixinha ou libertar-se da mesquinharia e amar sem freios? De que maneira se pode controlar esses sentidos? Como desfazer-se dos anseios?

São perguntas importantes, afinal, nunca amamos sozinhos... Amamos alguém. Ou alguéns (no meu caso). Amar João não me impede de amar Pedro que não me impede de amar Luís que não me impede de amar Luciano. E nada disso me impede de amar Maria, Paula, Francisca e aquele padre Franciscano que sempre diz coisas lindas! Amo todos!

Antes de amar o amor, eu vivia paixões. Paixão: substantivo feminino que denota atividade, hábito ou vício dominador. Que dor! E quando o objeto da paixão voa, quer-se cortar os pulsos de tanta irritação. Perde-se a noção do ridículo. Sim, porque é ridículo querer enfiar alguém numa alcova de sentimentos. Não dá pra ficar muito tempo preso lá dentro. Impor tal prisão à alguém é cavar a própria cova. Não importa o que se diga, isso não é amor. Paixão é posse. 

O amor não. O amor é mais livre que um pássaro em pleno voo. O amor desconhece muros ou barreiras, desconhece algemas e corre entre as veias dos amantes. O ser amado será sempre você. Porque estará dentro, e fará parte de todo o seu ser, dos pés à cabeça. Esqueça a posse se quer amar. Carregue o amor dentro de si e isso bastará para trazer alegria. 

Um dia, quando esse estado chegar, a tessitura da vida será tão leve, que nada, nem ninguém , poderá destruir a beleza do pássaro planando num céu estrelado. Meu amor não precisa estar do meu lado. Está dentro. Dentro de mim e de todo o Universo que carrego. 

Não quero ser a única, ou a melhor, ou até mesmo aquela que se exibe para os amigos e família. Não quero casa, mobília, nem nada disso. Não quero o tal 'compromisso' que vem junto com a caixinha. Não quero ser a metade de ninguém. Quero ser eu mesma, inteira, com todo amor que carrego. Não nego, amo sozinha! 

Quem quiser meu amor, seja bem vindo! Quem ficar com raiva, tira as calças e pisa em cima!

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Quem Canta um Conto Aumenta um Ponto Na Escala da Alegria

Pééééééééé - toca a campainha

Estava escrevendo, concentrada, e levei um baita susto- minha campainha é muito alta. Pensei: 'preciso trocar essa campainha, um dia ainda morro de infarto cardíaco'. 
Olhei pelo olho mágico, um cara de camiseta cinza segurando um arranjo de flores.
Abro a porta:
-Pois não?
-Sra. Cecília?
-Eu mesma.
-Encomenda para a senhora. 
O garoto me entregou um buquê com DUAS DÚZIAS de rosas vermelhas. Ainda espantada com tal presente, e sem conseguir ver o cartão porque ele esperava minha assinatura no recibo, imaginei quem seria o ser que me mandaria duas dúzias de rosas, e o que teria escrito como justificativa para tal presente. Confusa, perguntei:
-Como você entrou aqui?
-O portão do prédio estava aberto, resolvi subir!
'Puta que pariu', pensei, 'quem foi o filho duma cabrita que deixou o portão aberto?' e agradeci. Deixei as flores em cima da mesa e acompanhei o motoboy até lá embaixo, para me certificar que dessa vez o portão e a porta de entrada ficariam muito bem fechadas.
Voltei ao meu apartamento e abri o cartão. Estava impresso.

"Duas dúzias de rosas vermelhas não podem retribuir o que fez por nós. Você é um anjo. Venha me visitar aqui em Jerusalém. Abraços, Anna"

Me emocionei. Anna, uma mulher de aproximadamente 50 anos que conheci meses atrás, enquanto voltava para casa depois de levar um baita bolo. Eu descia a Rua Harmonia em direção ao metrô e tinha uma mulher parada na porta de um prédio. Era domingo, umas 23h. Fiquei com medo. Ela me olhava muito profundamente. No momento que a percebi pensei: 'será que ela vai me empurrar para dentro do prédio, me sedar, e vender meus rins e fígado e o que mais estiver saudável?'. Mas continuei andando, alerta! Quando estava passando na frente do prédio, ela fala, com uma voz estranha e um sotaque:
-Por favor, você pode me ajudar?
-Depende. Você precisa de ajuda para que?
- Meu nome é Anna, e minha mãe mora aqui nesse prédio. Preciso trazer um microondas para o carro, mas é no terceiro andar, o prédio não tem elevador e sou surda de um ouvido. Não tenho equilíbrio para trazer sozinha e minha mãe tem 93 anos e não consegue me ajudar. Você pode me ajudar a trazer o microondas para o carro?
-Posso. Respondi, receosa. 
Mas as palavras dela não trouxeram medo ao meu coração, então entrei no prédio e subi as escadas. Quando chegamos na porta do apartamento, uma senhorinha muito fofa 'guardava' o microondas. 
-Ah, você demorou! Disse dona Adelina num tom meio ranzinza. 
-Mãe, ninguém quis ajudar, só essa moça.
Fiquei lisonjeada pelo moça, e vi que era um microondas desses Brastemp, levinho. Falei:
-Deixa que eu levo!
Dona Adelina retrucou:
-Não, minha filha, é pesado para descer as escadas com ele!
-Estou acostumada, respondi, já levantando o microondas e começando a descer.
Dona Adelina ainda retrucou umas coisas com a filha, 'ande logo, não tá vendo que tá pesado?', 'abre a porta pra menina', 'abre logo o carro'. Eu ri por dentro. Os idosos e suas manias... rs
Quando deixei o microondas Anna me disse que morava em jerusalém, trocamos emails, ela quis me pagar e- óbvio-- não aceitei! Fui embora com o coração aquecido, até me esqueci do bolo que havia levado e dos desmazelos... Nos escrevemos algumas vezes, passei meu endereço porque ela disse que tinha um presente que queria me mandar...

Eis que hoje recebo DUAS DÚZIAS DE ROSAS VERMELHAS! Minhas favoritas! 

Obrigada Anna! 




Shalom

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Sobre o que Preciso

Não preciso de muito
Um abraço amigo
Carinho
Um pouco de sorte
E uma noite contigo de vez em quando
Preciso do palco-
Sem ele eu morro
Às vezes preciso achar descanso
Silêncio
A vida dá e a vida tira
Mas o que temos aqui dentro
Estará para sempre conosco
Não preciso de muito
Somente o que posso carregar

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Cântico do Amor Total

Se tudo na vida é passageiro, deixa eu ser o pedaço que falta para sua obra de arte ficar completa. Sei que uma coisa não tem nada a ver com a outra, mas o amor não tem lógica, então tudo bem... Aproveita esse momento e segue comigo, vamos como dois perdidos encontrar caminhos. Nada é certo, nem mesmo a vida, que um dia encontra a morte. Tenho sorte de ter te encontrado. Você também! Quantas voltas demos, quantos caminhos trilhamos, mais de cem! E entre tantos enganos, um amor perfeito! Verdadeiro!!! Estranho aos olhos de muitos, mas o que importa o que pensam, se temos tanta cumplicidade e respeito? E de que jeito poderíamos não nos amar? Só se fôssemos outros, mas então não seríamos cúmplices. Parceiros num compasso perfeito. Vou te contar um segredo, que guardei para esse momento: quando fecho os olhos sinto seu cheiro, e sua voz aquece todos meus sentidos. Sinto que faz parte do que me tornei, e que nada, nem ninguém, poderá mudar isso. Mesmo quando está longe, está comigo.

Ah, meu amigo! Estar ao seu lado é como navegar num mar perfeito. As ondas vêm e voltam, sempre diferentes. E a cada novidade, difícil ou fácil, estamos lá, lado a lado. Eu maluca, você centrado. Coragem para falar a verdade não falta, por isso sinto sua falta quando está longe. Na verdade, mesmo longe está perto, aqui dentro! Sempre! Meu alento! 

sábado, 3 de agosto de 2013

Ensaiando um Ensaio sobre a Feiura e o Amor

(a feiura não é aquela externa, não existe aparentemente feio. essa alma não consegue considerar cara feia feiura de fato. essa menina acha que feio mesmo é querer puxar o tapete dos outros. esses ouvidos não quiseram acreditar no que ouviram. porque esses sentidos não perceberam a criatura horrenda escondida atrás do semblante mal parecido que carregas? uma cara feia pode ser fome... ou frio. uma alma feia já nasce. não tem pó da mac que resolva. ou primer lancôme. nem adianta tentar. tem que se espiritualizar. por isso essa aprendiz compartilha a ponta de mágoa deixada pela notícia que recebeu. para ver se ela se desfaz. se se transforma em palavras que serão brevemente esquecidas. apagadas. luzes e sombras não mais projetadas na parede das sensibilidades. essa consciência gosta de amar. mais nada).