Pééééééééé - toca a campainha
Estava escrevendo, concentrada, e levei um baita susto- minha campainha é muito alta. Pensei: 'preciso trocar essa campainha, um dia ainda morro de infarto cardíaco'.
Olhei pelo olho mágico, um cara de camiseta cinza segurando um arranjo de flores.
Abro a porta:
-Pois não?
-Sra. Cecília?
-Eu mesma.
-Encomenda para a senhora.
O garoto me entregou um buquê com DUAS DÚZIAS de rosas vermelhas. Ainda espantada com tal presente, e sem conseguir ver o cartão porque ele esperava minha assinatura no recibo, imaginei quem seria o ser que me mandaria duas dúzias de rosas, e o que teria escrito como justificativa para tal presente. Confusa, perguntei:
-Como você entrou aqui?
-O portão do prédio estava aberto, resolvi subir!
'Puta que pariu', pensei, 'quem foi o filho duma cabrita que deixou o portão aberto?' e agradeci. Deixei as flores em cima da mesa e acompanhei o motoboy até lá embaixo, para me certificar que dessa vez o portão e a porta de entrada ficariam muito bem fechadas.
Voltei ao meu apartamento e abri o cartão. Estava impresso.
"Duas dúzias de rosas vermelhas não podem retribuir o que fez por nós. Você é um anjo. Venha me visitar aqui em Jerusalém. Abraços, Anna"
Me emocionei. Anna, uma mulher de aproximadamente 50 anos que conheci meses atrás, enquanto voltava para casa depois de levar um baita bolo. Eu descia a Rua Harmonia em direção ao metrô e tinha uma mulher parada na porta de um prédio. Era domingo, umas 23h. Fiquei com medo. Ela me olhava muito profundamente. No momento que a percebi pensei: 'será que ela vai me empurrar para dentro do prédio, me sedar, e vender meus rins e fígado e o que mais estiver saudável?'. Mas continuei andando, alerta! Quando estava passando na frente do prédio, ela fala, com uma voz estranha e um sotaque:
-Por favor, você pode me ajudar?
-Depende. Você precisa de ajuda para que?
- Meu nome é Anna, e minha mãe mora aqui nesse prédio. Preciso trazer um microondas para o carro, mas é no terceiro andar, o prédio não tem elevador e sou surda de um ouvido. Não tenho equilíbrio para trazer sozinha e minha mãe tem 93 anos e não consegue me ajudar. Você pode me ajudar a trazer o microondas para o carro?
-Posso. Respondi, receosa.
Mas as palavras dela não trouxeram medo ao meu coração, então entrei no prédio e subi as escadas. Quando chegamos na porta do apartamento, uma senhorinha muito fofa 'guardava' o microondas.
-Ah, você demorou! Disse dona Adelina num tom meio ranzinza.
-Mãe, ninguém quis ajudar, só essa moça.
Fiquei lisonjeada pelo moça, e vi que era um microondas desses Brastemp, levinho. Falei:
-Deixa que eu levo!
Dona Adelina retrucou:
-Não, minha filha, é pesado para descer as escadas com ele!
-Estou acostumada, respondi, já levantando o microondas e começando a descer.
Dona Adelina ainda retrucou umas coisas com a filha, 'ande logo, não tá vendo que tá pesado?', 'abre a porta pra menina', 'abre logo o carro'. Eu ri por dentro. Os idosos e suas manias... rs
Quando deixei o microondas Anna me disse que morava em jerusalém, trocamos emails, ela quis me pagar e- óbvio-- não aceitei! Fui embora com o coração aquecido, até me esqueci do bolo que havia levado e dos desmazelos... Nos escrevemos algumas vezes, passei meu endereço porque ela disse que tinha um presente que queria me mandar...
Eis que hoje recebo DUAS DÚZIAS DE ROSAS VERMELHAS! Minhas favoritas!
Obrigada Anna!
Shalom
Nenhum comentário:
Postar um comentário