Foto by Jennifer Glass

sexta-feira, 19 de maio de 2017

RESTOS



Mais um adeus se fez entre lágrimas, enquanto o gosto da solidão amargava o céu da boca.
Outro precipício à procura das asas perdidas uns catorze romances atrás.
Fundo do copo, mágoas afogadas no álcool tapam o buraco com a peneira.
Escorre esperança pelo ralo, corações rasgados em pedaços sangrados.
Dilacera a vontade de ser mais alguém.

Enquanto a sorte não vem, azar.

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

RASGADO

"Não gosto do seu passado." Pois é, tem partes que também não gosto muito, mas essas partes me construíram e sou o que consigo ser por enquanto. Tento aprimorar a convivência com humanos. Repasso o passo a passo do que passei na cabeça tentando encontrar excesso de sentimento. Está por toda a parte. Intensidade é meu forte. "Ah, mas você não pode ser assim." Ai de mim, que tanto pulso, que nada sei. Também, quem mandou nascer artista? Podia ter vocação para outra coisa que não a poesia. Matemática, ciências, tecnologia... medicina! Poeta não serve para nada, a não ser para enfeitar as palavras e metaforizar a vida. Aqui em São Paulo, cada dia mais cinza... Rimas bonitas não são arte o suficiente. "Escreve uma série e vende para a TV." Ninguém quer saber de sentimentos. O importante é ter dinheiro. Pagar as parcelas dos cartões e dormir em quartos estilosos com seus chandeliers carérrimos e retratos posados para o fotógrafo da moda.
Nada disso me emociona, mas o toque da sua pele sai faísca, sua boca na minha...
Perdida em contradições sem razões de serem, tremo inteira e fico sem palavras na sua presença. Ausente de mim mesma, imploro que perceba que o silêncio já causou danos demais. Não sou capaz de alimentar essa chama sozinha. Se o problema sou eu, me deixa na minha. Esquece que precisa quebrar essa casca, continua em casa, trabalho, noitadas sem graça, pessoas rasas. Leva seu relógio mais caro e arruma uma namorada bela, cheia de recatos. Compra outro carro, um apartamento no centro. Ganha bastante dinheiro. Só não vem falar que faço tudo errado. Sou feliz do meu jeito, chorando cada lágrima que brota em meu olho. Nem adianta tentar me condenar por meu exagero, pois ele me transforma, e se agora eu sinto muito, amanhã não sinto nada. Então tira logo essa máscara, antes que você fique esquecido nas memórias que temos quando lemos a poesia e lembramos do momento em que ela foi escrita.



quarta-feira, 16 de novembro de 2016

NOTURNO

Pronto. Perdi o sono outra vez. Me perdi em meio à memes engraçados, vídeos de cachorrinhos fofos, chá de camomila, memórias do ano passado, textos longos, maracugina, fotos de assados, tragédia no Congo e essa mania cretina de ter pensamentos que são seus. Hoje foram quatro horas e dezesseis minutos sem pensar em você. O amanhã nasce no horizonte e onde quer que eu ande sua imagem me persegue. Você aparece em todos os lugares: nas revistas, em uma nuvem, na neve que cai lá fora, nos pingos da chuva, nos rostos de estranhos, no catchup que coloquei na pizza, no mofo do banheiro... Coração entregue, medo que eu me revele paranoica ou obcecada. Nada do que eu pense ou faça ou diga ou escreva me tira a pulga detrás da orelha. Porque nada acontece? Parece que escolhi você de propósito, a distância alimenta a fome. Enquanto a cidade adormece, desperto. Bem que você podia estar perto, coberto de marcas do meu batom. Sete muralhas nos separam e do lado de dentro, onde se protege dos sentimentos, não entro. Não porque não quero, mas porque e os tijolos são impenetráveis. Imploro que logo passe a vontade, mas a verdade é que quanto mais me esforço para não pensar em você, mais o gosto do seu beijo queima em minha boca. Aí fico parecendo louca, escrevendo textos que só são lidos na França, mas tenho esperança que um dia leia e derreta todo esse gelo que não deixa você ser inteiro...


Quando sentir não tem sentido, escrever desopila o fígado...

#existeamoremSP

terça-feira, 15 de novembro de 2016

PRÓLOGO

Enquanto chove em São Paulo, aqui na Lapa trancada sozinha no meu apartamento, já lavei a louça e confesso que tenho preguiça de varrer o chão e passar o pano. Um surto sincero do que sinto, impulso, pulso que segue admitindo quem sou, perdendo cada vez mais o medo de minha própria intensidade...

Enquanto chove na cidade cinza, penso que de algum jeito eu talvez consiga dormir essa noite. Talvez eu nem me importe em dormir sozinha, desde que aqui não entre nenhuma barata. No frio elas estão mais escassas, então me acalmo um pouco e nem peço socorro a nenhum amigo. O maior perigo que corro é me perder em pensamentos que são seus e consomem minha rima não me deixando falar de outra coisa...


Enquanto chove lá fora percebo aqui dentro fluir o desejo num mar sem fim que em seu riso deságua. Você não se esforça para ser diferente do difícil e me deixa num beco sem saída, poço sem fundo. Lá fora um mundo de oportunidades batem à porta e nenhuma delas tem importância. Sua implicância comigo ainda vai me matar de medo. Tenso castigo que impõe sobre a luxúria esdrúxula da qual não consigo me livrar.

Tortura, os pingos da chuva caindo sem molhar, poder sentir seu cheiro enquanto olho sua foto sorrindo longe de mim. Ouvir canções do Reginaldo Rossi, para que eu possa esquecer de tudo que fizer mal ao amor por você e suas mil maneiras de tentar me afastar por medo desse desejo sem explicação que teima em ser faísca .

Se arrisca e me ensina o seu caminho. Ando sozinha ultimamente. Cercada por gente de todos os tipos, só com você fico contente. Me aceite como sou e te dou meu sorriso. Paixonite aguda, volúpia, pele, pelos, beijos molhados, suor perfumado, sua por inteiro. Apelos. Se arrisca que eu me arrisco. Acaba com essa agonia que condena a poesia a ser tua eternamente...



segunda-feira, 4 de julho de 2016

REALISTA ou QUANDO VOLTO PRA CASA


Achei a poesia que botei na sacola
Pouco importa o quanto demora perceber
Viver de palavras não paga as contas
São tantas manhãs sem sono
É tanto abandono
O âmago cobra soltar sentimento
Prender atormenta
Não aguenta a hipocrisia
Mentes cheias de si, mas vazias
Inventam desculpas para se coroarem
Soltarem amarguras
Visto a armadura de Jorge e encaro o dragão
Na lua os sonhos são vistos de perto
E lá permaneço
Eu, Jorge e a sacola de poesia
Que andava esquecida embaixo da pilha de contas a pagar

quinta-feira, 16 de junho de 2016

EPÍLOGO OU QUANDO DRUMMOND ENCONTROU QUINTANA NUM BAR NA LAPA

O amor chegou, bateu na porta na hora errada. 
A aorta começa na carótida e nem termina.
Enquanto isso você me ensina a te esquecer.
Sendo cada vez mais sua memória, seu jeito, seu abraço, seu gosto.
E nada do que gosto em ti satisfaz em outro.
Um gosto fugaz e um jeito de olhar com desapego que me levou ao desespero uma vez.
Águas passadas.
Hoje ri do meu apelo.
Também rio por dentro.
Jogando um jogo que me deixa confusa.
Não sofro, ando ocupada.
Intriga saber meu cheiro, seu desejo inflamado.
Deixa o ciúme velado, deixa a porta aberta.
Minha poesia é sua, minha voz também.
Mais de cem amores passaram, passam, passarão.
Enquanto o nosso passarinho...

sábado, 5 de março de 2016

ENQUANTO A LUA NÃO MUDA

Ando inspirada. Aparadas as arestas cicatrizam feridas. A vida, infinita forma de ser patético. Complexo excesso de culpa. Puta medo. Desejo intenso, segundas intenções. Tesões, tensões. Palavras lavam a alma, intacto reflexo do sentimento puro. Ao mar recorro para lavar mágoas. Sal, lágrimas. Um mergulho e o profundo se acalma. Reclamar atrapalha. Transformando estado de espírito e atitudes passadas, amadureço. Permaneço inteiro, intenso. Resto de poeira cósmica que desaparece na lua minguante...

sexta-feira, 4 de março de 2016

Doi(í)do

Tiro a máscara e assumo meu gosto, tão seu. Fui pro céu e pro inferno, e ainda estamos em março. Abraço a crueza, não sei ser sutil. Ando solto, na boca o gosto de espaço queimado e estrelas tristes pela lua morta. A noite fria incomoda quando não está perto. Decerto já esqueceu, outros rostos eram dez, cem, mil, milhões. As desilusões do passado permanecem por onde passo. 
Tiro a máscara e assumo meu gosto, tão árido. Caídas no infinito rouco das meias verdades, mentiras inteiras. Úmida vontade de ser sua enquanto noite. Mas a lua está morta, as estrelas são tristes. Todos os caminhos insistem em roubar minhas palavras. 
Tiro a máscara e assumo meu gosto, tão tosco. Insignificante alvoroço rebulindo meus medos. Desejos inteiros, intensos. Busco imagens coloridas. Faltam flores e você. Palavras dilaceram minha força, expõem meus segredos.
Tiro a máscara e assumo meu gosto, tão cedo...

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

TENTATIVA FRUSTRADA DE SONETO EM HOMENAGEM À SHAKESPEARE E/OU FÊNIX DE CARNAVAL RENASCE NA QUARTA-FEIRA DE CINZAS


a marca da dentada
cravada no pescoço
escorre sangue, provoca o gosto
desperta lágrima açucarada
discorre, não leva à nada
afunda no fundo do poço
da esperança nenhum esboço
nem há corda pendurada
não há cordas no cavaco
para compor um samba canção
restou uma caixa de fósforos e uma vela
não seria mais aquela
mas ainda é a mesma
sempre a velha promessa
partindo da premissa
que não pressa nem nada
nem desespero, nem conto de fadas
caminhar solo na estrada
alguns desencontros
levar porrada
cair e cair e cair
atrevimento levantar
sempre atrevida
entre a vida e a vida
prefere viver
intensamente
para quando chegar a morte
(única possibilidade que não é hipótese!)
passar pela mente
pensamento
missão comprida
missão cumprida
sem corromper a essência
o resto é silêncio

sábado, 2 de janeiro de 2016

Dinâmica e Realista

Então não consegue ser moldada à perfeição. Não há forma que se aplique no seu caso. Seu descaso com as aparências é essencial. Veio nas entrelinhas que aprendeu a ler, ainda criança. Um mix de bala de jujuba, doce de leite de graxa e metáforas. Händel, Tchaikovsky, a avó tocando Bach no piano de armário no apartamento com cheiro de maresia e banha. "Você nunca vai ser a Nadia Comaneci". A família repleta de peitos e bundas e pernas e curvas. Aquela ginasta era tábua. Pulava 3 metros aos 2 anos de idade, treinava igual louca, não comia carboidratos. Enquanto fechava pastéis de queijo e presunto com a ajuda de um banquinho para alcançar o balcão enfarinhado, queria ser a ginasta. Realista preferiu os pastéis e as balas de jujuba. O doce de leite de graxa guardou como memória negativa, daquelas que puxamos quando 'a primeira impressão é a que fica', mas a banha, os pastéis, o papel na sociedade e os constantes e diários debates formaram uma forma meio ar, meio água, um bocado de terra e tão pouco fogo que até que é bom. 
Levou muita surra, as doloridas, as de supetão e as que nem devia ter levado de fato, mas tagarelava tanto que acabou sobrando umas porradas.
Vida, sua engraçada! Um tombo com a cara no chão é melhor que cair num buraco. Esse mix de ar e água tornaram as coisas mais dinâmicas. Levou porrada, levanta! Perdeu os dentes, sorri de leve! Tantas coisas perdidas entre o relógio de mamãe e as oportunidades de ficar calada. Fugir das alcovas fazendo estrondo. Nada tão redondo quanto a Terra girando ao redor do Sol. Passam dias, meses, anos. Passa a vontade de ser ginasta e começa a vontade de coisas muito mais esquisitas. Vontades de artista, que reinventa a si mesmo e com o passar do tempo e a aceitação do que é de fato, orgulhoso exibe seu pastelão de comédia mexicana com aquele toque de Beckett e referência no Picasso.
Sem forma pré definida, rio que tudo arrasta quando as margens lhe comprimem, cansam as tentativas de molde. Faz tempo desde a descoberta do rio que não se molda, e as bostas resultantes dessa falta de espírito hipócrita já não mais reverberam em dimensões alarmantes. Tremem as estruturas, que talvez até sejam seguras por existirem os defeitos. Não existe jeito certo, levando em conta que uma hipótese pode ser comprovada de formas diferentes, chegar à luz da certeza não é teoria válida. Não saber de nada. Sentir. Sentir tão verdadeiramente que chegue a suspeitar que etiquetas sociais são bobagem. Verborragia a palavra errada. Ninguém sabe de nada. A gente só imagina e desperdiça energia em conversas inúteis. Quem não puxa o saco do cara que vai te foder amanhã e nem puxa o tapete de quem te ajudou, quem fala o que pensa e não se importa com aparências ganha a etiqueta de transgressor, agressor, vilão mór dos problemas. Espelhão gigantesco do ego alheio. Relação é espelho. Dinamismo é recomeço, sem temer os tropeços, quedas, porradas, agressões. A vida é tão bonita quando descobre que até pouco tempo atrás Matemática fazia parte da faculdade de Filosofia, que não é mais considerada Ciência por alguns acadêmicos ceticistas. E quando se chega a divisão do núcleo do átomo num Universo infinito, entende que mutações nas verdades são possíveis e percebe o rio que sem nenhum fator externo agressivo permanece nas margens que criou para si mesmo.
Referências usadas nesse texto: Cecília Meirelles, Elisabeth Bishop, Brecht, Luiz Fernando Guimarães, Clarice Lispector, Nietzsche, Platão, Luiz Gasparetto.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Habilidade ou Como Aprender a Gozar a Vida

Enquanto emudeço pés descalços sangram
O ritmo é outro
Palavras se escondem no âmago
Armadura para a vida
Arnica para as feridas
Avidez leva à resiliência
Puxa saco, bate palma, joga rosas
Conivência hipócrita
Nos calabocas sutis calabouços
Os doidos emprestam loucura
Tapando rachaduras com sensatez
Mas você tem que ser alguém
Você tem que ter
O amarelo, o vermelho, o prêmio, o dinheiro
Pelo menos tem que estar no galinheiro
Ciscando as migalhas
Fingir achar beleza nas máscaras retorcidas
Não ser mais um sincericídia

sexta-feira, 15 de maio de 2015

CICLO VICIOSO

Quando o que sobra são casacos costurados aos corpos, nenhum corpo se completa, e mesmo que se tente a fundo sempre há empecilho. Se o tempo passa fica difícil, e nada mais tem graça, nem mesmo o verde da parede de fundo onde seu mundo entra no meu. Morfeu não vem, e eu já tomei mais de cem pílulas em gotas. Esperar - meu coração vai na boca. O medo de estar sozinha no silêncio do quarto frio deixa alerta. De perto ninguém é anormal. Enquanto um chora, outro ri, tá tudo equilibrado. No final, carregar cadáveres pesados no carrinho. Carinho tem de sobra, paciência nem tanta. É outra a questão que me deixa afoita, que faz bater uma onda. Quando emociona desmonta a força e segue cambaleando noite afora. Agora resta ser normal, mais ou menos igual aos tantos que olho passar pela janela. Aquela sensação adstringente na garganta, os caminhos não tem mais volta. Importa o que você pensa, importa o que me peça. Só estou tentando impedir o amor de sangrar mais um pouco, enquanto continuas louco descarregando encomendas nos portos. 

domingo, 3 de maio de 2015

VÍSCERAS

Devo dizer que ando sentimental ao extremo. Primeiro porque tive outro pneumotórax, que remexeu todas as minhas emoções. Segundo, eu não sei porque... 
Me feri, estrepei, e sem saber como, estanco o sangue que ardia. Não consegui ser diferente, ou indiferente, como preferir chamar. Emociono, corro riscos. Nem ouso questionar o que sinto, já que sentimentos meus vem de uma só vez, e, mesmo quando vem aos poucos, vem ariscos. Acelerados (no nosso caso em direção ao atraente tormento que são suas retinas e as faíscas que saem quando nos tocamos). Não nego meu gosto que é teu e teu gosto que permanece em mim. Enquanto nas águas tortuosas nado torto, ilogicamente nasço de novo, num amor ou num gozo, sopro de vida da emoção à flor da pele. Tenho um puta medo do sentimento que leva, de seus desdobramentos. Tento permanecer alheio, escondido atrás de uma conveniência covarde. Sem fazer alarde, minha cota de covardia foi gasta quando permiti arrancarem de mim as pernas (para quem não sabe do que falo, o palco). Daí penso que o resto posso jogar para o alto, porque é só mais um dia a dia. É mais rotina. Então vou fundo, sem pensar no futuro ou mesmo em consequências. O amor tem consequências? O que pesa na consciência não serve para mim. Não vivê-lo resulta em amarguras futuras. Já fiz muita coisa errada, já fiz muito mal à mim mesma, e, com certeza, aos outros. Hoje quero recolher os cacos espalhados, espelhos de uma alma que tenta viver e amar antes que a morte leve para o verdadeiro buraco.
Sem sofrência, a realidade escancarada dói, mas passa.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

IMPREVISTO

trancado 
peito eufórico
silêncio e desejo
acomodados
medo
do que há por vir
ainda aqui
sem sair do lugar
nadar nas marés calmas
mas não é mar
é lago
largo tudo
no escuro da gaveta
e me culpo
em ocupar meu tempo
com coisas bestas
prometo foco
falta pouco
no entanto
tanto...

se a porta abre a covardia fica de lado
não cabe qualquer atraso
mas a porta ainda está fechada
com a chave quebrada dentro da fechadura

segunda-feira, 16 de março de 2015

QUANDO A FOME ENCONTRA A VONTADE DE COMER VOCÊ

Beijo cálido
Atravessa a noite que acordo molhada
Suor, saliva
Lasciva ameaça à calmaria
Atravessa a alma
Gosto doce
Aquece
Hora passa
Agora descamba o que sobra
Suas marcas
Carne
Língua
Longe escorre desejo
Frio na barriga
Disposta a apostar no gozo outra vez


terça-feira, 3 de março de 2015

ATAQUE DE NERVOS OU CIÁTICO NERVOSO OU AINDA AMOR SÓLIDO QUE NÃO É PAÇOCA

Talvez seja a quantidade de fármacos* ou de agulhadas que tomei, talvez seja o barulho de você lavando minha louça enquanto canta Beatles baixinho, mas uma onda de amor e saudosismo tomou conta de mim. Me lembrei da primeira vez que foi embora, aquele olhar prometendo me amar para sempre e por outras vidas também. O que te trouxe aqui hoje -e todas as vezes- é igual ao que te trouxe para mim da primeira vez que nos vimos. Você lembra? Eu estava tão descabelada e desencanada e desprovida de olhar para outra pessoa senão eu, e mesmo assim você me amou! Me amou à primeira vista mesmo, e eu te disse que não acreditava nessa bobagem. Pois paguei minha língua. Liberdade, companheirismo, respeito e maturidade. Muito amor. Vontade de comer a carne e a alma. O olhar atencioso e protetor que nunca podou nenhuma das minhas loucuras! Você sempre as apoiou! E quando me deu aquela bronca dizendo que eu podia ir muito mais fundo como artista, quando amou minha poesia. E quando me ama no dia a dia com toda a controvérsia que parte de mim, com todos os meus deslizes e com toda a minha falta de tato e verborragia. E mesmo quando mando você ir pro inferno, sempre nos cenários mais esdrúxulos, você me beija com mais paixão! (Nessa hora meu coração deve bater umas mil pulsações por segundo!!!) Sei que vai embora de novo. Para ser mais precisa em dezoito dias tudo volta ao (a)normal. Os planos para o futuro estão no mundo sonhos. No dia a dia não é tão fácil se livras das armadilhas do nosso ego. Fotografo em minha alma essa imagem sua lavando minha louça depois de cozinhar o jantar, meu parceiro, gentil cavalheiro que és. Eu quero te amar, sem máscaras nem amarras. Se meus nervos estão à flor da pele, você é aquele que acalma, e SIM, me faz ver que existe amor na patética São Paulo. Você é entrega! Você me inspira! Tchau, amor amigo! Arrivedercí! Vou me despedindo porque os últimos meses foram intensos, e quero sorver nossas despedidas, para que na calmaria eu consiga não perder o foco. Aprendo paciência- necessário!- e me aceito como sou. Amor, sendo amor, amando! Nada de pouco a pouco. Aqui é muito a muito!! Emoticon heart
Obrigada, obrigada, obrigada! Te amo e amo que sempre está aqui. Presente na minha poesia! Emoticon heart
— ouvindo The Beatles à capela, e o barulho da louça limpa sendo colocada no escorredor.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Errante

querem estar certos, sempre...
mas não tem como estarem certos em relação ao que eu sinto. 
nem eu sei ao certo! 
sentir é abstrato e a vida não é uma prova em que você tem que acertar sempre.
as vezes só é preciso que sinta.
mas já são três horas da madrugada e então concordo para poder dormir sossegada.
querem ver, mas na luz apagada não enxergam nada. 
então erro baixinho, num silêncio profundo e só meu.
os meus erros são meus guias!
deles nasce a minha poesia.
deles morro um dia...

#existeamoremSP
#existepoesiaemSP
#deubrancomastôvoltando

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Afago

Não consigo separar as palavras ator e carinho. 
Carinho consigo, com os outros, com o texto, até mesmo com as diferenças. Uma peça só pulsa se construída carinhosamente. 
Tantas possibilidades e às vezes nada encaixa...
Se o carinho estiver esquecido, a auto estima se esvai. 
Difícil trabalhar em ambiente hostil.
(Muitos o são). 
Egos enormes escancarados e não adianta ter disciplina e prazer no fazer teatral.
Os diretores sempre tem os seus preferidos.
No meio hostil sempre é claro quais os são.
Os atores que tem carinho consigo não caem em armadilhas do ego.
Entregam o jogo, se entregam ao jogo!
Porque, afinal, o fazer teatral é o prazer maior! 
Raro ser premiado com um grupo livre de egos.
Obrigada, universo!
Por mostrar que nada se constrói sozinho, o teatro se constrói com amor e pulsação!!! 
Por mostrar que assim como as peças e as temporadas, tudo é efêmero!
A vida é efêmera, um sopro que jajá acaba.
Nada que se faça para ser o favorito vale a pena.
O que vale é estar em cena, pleno!
Alma, corpo, mente! 
Inteiros dentro da história a ser contada!
Mestra minha tia madrinha Aranha!
Me ensina o que é amor ao teatro!
Carinho, estar presente de fato, respeitar o espaço!
Pulso acelerado! 
Carinho por todos os meus colegas atores!
Luz nos nossos caminhos!
Muita cena para nós!!!!
Palco!
Merda!!! 

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"Eu uno minha mão à sua, eu uno meu coração ao seu, para que juntos possamos fazer, o que eu não quero, não posso e não vou fazer sozinho. Merda"

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Hightech

Viver é complicado e do outro lado do oceano é também. Não adianta iludir-se pensando que seria de outro se tudo é do jeito que é. Você é do jeito que é.  Afinal, somos tantos em um só e por mais centrados e ajuizados sempre acabamos tendo momentos de caos. Além disso tudo, ainda tem os outros com os quais nos relacionamos. E o cansaço que só aumenta ano após ano. Cheios de danos emocionais seguimos adiante e vamos vendo no que vai dar. Frustrações à parte, falta um pouco de generosidade. E gratidão também. Mas tudo bem, consigo entender a amargura. A vida é dura! Mas e daí? O importante é seguir. Sentir está demodê, então só se for escondido. Tem que aparentar ser blasé. Tem que enfiar o coração no cérebro. Calcular, programar, planejar. Nada de amar. Está demodê também. Ame só depois de comprar seu apartamento e conseguir estabilidade no emprego. Ame só depois de cansado do seu próprio bafo. Ame só depois de morto. Ou não ame! Continue juntando dinheiro e talvez amanheça rico um dia. Eu estou demodê. Acredito que amar faz bem pra vida. O pulso acelerado de quando toco sua pele me faz sentir viva. A vida é curta e não quero frear. Quero mais é acelerar. Amar. Morrer de amor se preciso for. Mas sentir que meu coração sou eu inteira, e não um órgão atrofiado preso no cérebro frio e calculista.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Miragem

Este amor
é um equívoco.
Nele fico,
meu vício.
Assumo
em mim
seu gosto...
Dilacera
coração
(congelado
em seu peito).
Meu sangue,
fervendo,
fica frio
ao tentar
reaquecê-lo.
Perde
o ponto
de ebulição.
Perco a linha.
Choro jogada no chão.
Demoro
a entender.

Lá fora o barulho é alto, e aqui dentro também...


sábado, 10 de maio de 2014

Mãe

Carrega
nove meses
para sempre.
Planta
semente
colhe
filho
-aquilo
que chama
amor!
Ensina
o ser
a ser.
Impossível
nascer
sem ela.
Mãe:
aquela
estrela
que sempre
brilha.
Ilumina
os caminhos.
Mesmo
sozinhos
estamos
juntos.
Gravada
eterna
no nosso DNA.

Seu Gosto Na Boca

Acabou a poesia
Procuro palavras mas não encontro
Gostava de como era antes
Seguir adiante
Não adianta entrar em pânico
O sentimento que sai 
Agora é outro
Encaro os fatos
E me afasto
Procuro o silêncio
Não acho
Seus lábios gelaram
Um beijo selou meu medo
Morro esperando um espaço
No seu coração empedrado
Se não, morro de desejo

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Palavra Errada

Não quero a sorte de um amor tranquilo. 
Quero abraços sinceros
e um pouco de vinho.
Quero poder me jogar.

Mas calma!
Dizer 'eu te amo'
causa o mesmo efeito
de um xingamento.

É chique agora ser aquilo que não expressa e que não tem pressa.

Mais que tranquilo:
pisa no freio,
senão não tem jeito
- aborta o amor,
esse excêntrico!

Ele veio na hora errada...
Estapafúrdia piada
sem cabimento.

sábado, 3 de maio de 2014

De Perto Somos Todos Doidos

Por entre o afeto,
correndo,
sedenta passo
passo a passo a seu lado.
Cada carinho
venal,
(matéria prima)
gota a gota
palpita.
Não há o que sacie 
a sede 
de ver-te.
Consome a noite,
a sorte.
Seu beijo demora
minha rima, meu âmago.
Devora-me não romântico.
Solta ando.
Saltando.
Querendo absorver-te todo.
Aos poucos...


terça-feira, 29 de abril de 2014

Madrugada

Desperta sentidos disfarçados de nada.
Na calada da noite ouve-se o silêncio e seus ecos.
De perto ninguém é normal.
Mais anormal que isso!
Não há o que explique
esmagar sentimento
goela adentro.
Lutar com os fantasmas
do apartamento de cima
é balela...
comparada àquela
luta que me espera.
Contra a carne ardendo
(cerne da celeuma).
O único som que escuto,
é do fogo que queima,
que ferve meu sangue.
Me deixa acordada 
pensando em você...

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Mantra

Ser.
Água,
carbono,
luz e sombras.
Reflexo
do sol.
Astro Rei
de nossa galáxia.
Silêncio!
Estou exercitando as asas...

Doido

Ando
solto.
Na alma,
gosto
de resto de sol.
Tempero com mel,
sal,
semente de linhaça.
Antes 
que desfaça,
sonho
um pouco.
Abraço
o tanto tempo 
que passo
pensando 
em você.
Tento
esquecer.
Na pia a louça suja requer uma solução mais urgente.

terça-feira, 22 de abril de 2014

Meia noite no Pari

Volto de um ensaio de Hedda Gabler, e um senhora senta ao meu lado no metrô. Depois de me observar lendo o texto e as notas da direção, ela começa a dizer "é uma libertação esse fim de Eilert Lovborg" eu fico atônita. É uma das falas finais de Hedda, na cena antes dela cometer suicídio, e eu estou estudando o começo da peça, a cena de Hedda com Sra. Elvsted. 
Olho bem para ela e a reconheço: Nydia Licia Pincherle. Por um instante me hipnotizo por aqueles olhos azuis. 
Ela me pergunta: O que vai fazer agora? 
Não sei o que responder, estou cansada e o ensaio foi só esculacho do diretor. Ele não gosta de mim. Respondo: Queria ir para casa chorar. 
Ela segura minha mão e fala: Vem comigo, você vai se sentir muito melhor. 
Descemos na estação Armênia e começamos a andar em direção ao Pari. Entro no que parece ser um galpão, e lá dentro vejo um palco montado. Um homem più bello passa por mim. É o Walmor Chagas, com seus 35 anos. Nydia me pede para sentar e esperar um pouco que ela já volta. De repente o galpão começa a ficar cheio de gente, todos me olham meio esquisito porque estou de jeans, regata e all star. As pessoas estão extremamente arrumadas e bem vestidas. Toca o primeiro sinal, ainda não estou entendendo nada. Olho para um homem sentado ao meu lado e ele tem um programa de Hedda Gabler nas mãos. A foto da capa é da Nydia moça.  Olho bem para o homem. É o Celi! Meu coração vai na boca. Uma mistura de medo e excitação corre em meu corpo. Toca o segundo sinal. Penso se estou morta, eu bem que desejei me atirar nos trilhos do metrô depois daquele ensaio catastrófico. Concluo que devo, então, ter me atirado. Mas não sinto dor. Não estou toda ralada. Só um pouco descabelada. E com a maquiagem borrada por não ter conseguido conter as lágrimas. Toca o terceiro sinal, todos na platéia continuam esperando, a cortina não se abre. Toca o quarto sinal, toca o quinto sinal... O sinal não tem um som de campainha, ou sino, é um sinal diferente de todos que já ouvi no teatro. Toca o sexto sinal, toca o sétimo sinal. Tem um som de bip. Oitavo, nono, décimo, nada acontece. Décimo primeiro, décimo segundo. Acordo!
Decido nunca mais comer rabada com batatas antes de dormir.

domingo, 20 de abril de 2014

Le Coeur

Escrevi pra você
Apaguei a poesia
O que sinto é intenso
E palavras se tornariam feias
Comparadas aos dias sem freio 
Ou receio ou anseio
Sentidos plenos
Sem fantasia
Não saberia escrever o final...

sexta-feira, 11 de abril de 2014

o comedor de sonhos

Para Glauber Amaral
sonhou
que o sonho era frango
fraco do estômago
comeu com farofa
agora se afoba
com que sonho sonhar?
o que comer quando o sonho acabar?
(rimar verbo com verbo é feio, mas como é sonho pode comer o verbo!)


quarta-feira, 9 de abril de 2014

Eu queria ser um homem!
Se eu nascesse menino, minha mãe me chamaria Guilherme. Ela diz que quando estava grávida rezava 'por favor não deixa nascer menino'. Minha mãe queria muito uma menina.
Tenho um pensamento que não me sai da cabeça: será que meu cromossomo Y se transformou em X durante o processo de gravidez? Ás vezes me pego tendo atitudes comportamentais consideradas 'masculinas', como por exemplo fazer a hidráulica da casa, ou carregar um armário, ou falar muitos palavrões (esse impulso tem melhorado depois que larguei o áudio, mas, convenhamos, só tem 'mano' no ramo! Palavrão é quase palavra no backstage técnico...).
O mundo tem mais portas abertas para os homens. Nós, mulheres, podemos até bater, bater, incansavelmente, mas salvo raras exceções, as portas não se abrem. Aí pulamos o muro ou entramos pela janela, e o guardinha te pega lá dentro e te expulsa. O mais triste é que geralmente esse guardinha é mulher. Uma mulher que teve sorte de não ser expulsa quando pulou a janela e agora está lá, ajudando a colocar fermento nesse modus operandi.
Talvez eu esteja na TPM, ou talvez tenha constatado que o leão pode até gostar de você, leoa, mas as hienas que o rodeiam lhe comerão viva se tentar se aproximar. Entretanto, se você for leão - ou hiena, a história já é outra...
Em qualquer uma das hipóteses citadas, volto a afirmar, eu queria ser um homem!
*não trabalho com um gênio por ter nascido rotulada mulher heterossexual
(achei melhor o título desse vir no final)

terça-feira, 1 de abril de 2014

Passeio Reflexivo

Noite afora. 
Fora do mundo, dentro de mim, que sou o universo todo. 
No fundo existem lugares ainda por ir.
Não cheguei aqui sem dor.
Mas tive que aprender (com um cano enfiado nas costelas) a sorrir enquanto está doendo.
Dá um medo olhar pra si mesmo.
Reconhecer os defeitos
e os desejos.
Dá vontade de ficar aqui dentro.
Sorrir faz andar para frente.
Prefiro jogar o jogo do contente:
onde cristais quebrados filtram a luz do sol em cores.

Incomensurável

(A)Porque você não aproveita o papel de idiota que está fazendo, e assina o recibo também?
(C)Cê acha mesmo?
(A)Sincerão?
(C)Sincerão!
(A- respira fundo e fala, na cara)Acho que você é uma cagona de coração mole. Acorda peste! O mundo está inteiro aí para você descobrir tantas profundezas. E você preocupada com superfícies...

Depois de um breve silêncio mágico, lá embaixo (na Nove de Julho) um motorista enfia o carro no poste. Entre nós apenas olhares e mãos apertadas uma contra a outra. O carro bateu com muita força, parecida com a que tivemos para construir um relacionamento como o nosso. Muitos foram contra, não entenderam. Mas cá estamos, ambos mais fortes, maduros e plenos. Concordamos que crescemos. Que esse amor é joia rara. Que não tem nada no mundo que valha a amizade e lealdade que há entre nós. E que conseguimos desfazer os nós. Criamos laços. Passos que andam sempre lado a lado. E, mesmo se em outro compasso, dançamos a música que a vida toca, ao vivo e sem playback.

sábado, 29 de março de 2014

Pinga

Água 
Mole
Bate
Coração
Mole
Bate
Mente
Mole
Bate
Tentando furar a dureza da vida

quarta-feira, 26 de março de 2014

Átropos

Sempre esperada
quando chega
o corpo acaba
ou começa a acabar
enquanto Láquesis brinca
na Roda da Fortuna
com o fio que Cloto teceu,
fecha a tesoura
a Moira Morta.

Morrem todos!
Morre você,
morro eu.
A terra por cima,
e nada mais importa.

Você

Deleito-me
Delicioso delírio 
Descoberto entre nós

Sós
Ou a sós 
Estamos

Sem planos, desenganos
Profanos
Formando um par 

Perfeito!!

Me enfeito e espero
Sem desespero
Venero

Daqui a pouco as horas passam e cai nos meus braços outra vez

quarta-feira, 19 de março de 2014

Poeminha à nova moda antiga


Vá idade
Vaidade minha
Vai tarde
Ah, dor
Ardor constante
Flamejante
Entranhas abertas
Estranhas
Dispostas inteiras ao seu dispor

sexta-feira, 7 de março de 2014

Águas de Março

Rios 
Riso solto
Gosto de framboesa
Nada a favor da correnteza
Poupa esforço
A distância
Pare (ser)
Desimportante
Dez vezes mais
Cria força
Mas a paz também é boa
Na água calma
Inflama
O entusiasmo acompanha
Não demora
Abril muda tudo outra vez

(não era essa a poesia que estava presa, mas soltar essas palavras já deu um alívio aqui dentro...)

quinta-feira, 6 de março de 2014

Bloqueio Criativo

Tem uma poesia que está.
Aqui, 
na ponta dos dedos,
dos desejos.
Mas não sai...
Fica presa pulsando cada vez mais forte.

Enquanto isso a alma quase explode...

segunda-feira, 3 de março de 2014

Urubu

O polvo tropeça
Urubu pensa que é carniça
Já bica
O polvo não revida
Nem grita
Começa tudo outra vez
Oito vidas
A dor das bicadas
Recheia
Ferida na alma
Pulsa na arte
Incendeia o fundo do (a)mar

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Meio Rivotril

Amassado.
No seu caso,
só isso...

Pílula Pós Purgatório

Finjo 
Fujo
Ranger dos dentes

De repente 
Você 
Volta

Importa 

Aflito
Antes
Agora 
Alívio

Insiste
Imenso
Brinde

Palpite-
Amar
O mar
E você
É todo meu bem querer

Sem máscaras
Cara a cara

Como os amores devem ser



sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Leviatã

Na minha bagunça compassada
Cada passo a passo
Pulsa
Em direção ao nada

Na falta afetada
Cada fato
Esfrega
Explode em minha cara

Afaga
Fogo
Faca cega

Estraga entre vãos o afeto
Espera de peito aberto
Mão dadas

Rumo
Concreto
Ao nada

(*Monstro do caos na mitologia fenícia.)

Volátil

Enquanto você digere o jantar da semana passada, bebo um destilado e vou pensando no cardápio da semana que vem. Destilando o veneno enxergo tudo acabar imóvel. Na gaveta do móvel está a chave que você deixou, junto com a chave da felicidade. Não tenho mais idade- nem saúde- para brincar de esconde esconde. Contei até dez e deixei que se fosse. Não vou sair por aí procurando estrelas ocultas. Ninguém tem culpa! Era pra ser do jeito que foi. Sem pensar no depois. Agora estou só, com meu whisky sem gelo. Degelando a geleira que você deixou no vão das tuas respostas...

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Crônica do Amor de Um Final de Semana

Todo mundo se acha especial. Ou quer ser especial. Todo mundo quer significar bem mais que troca de fluídos. No meio das inseguranças alheias, lotados de vinho, encontraram-se. Partiram logo para o abraço, porque hoje não se pode perder tempo. Tempo é dinheiro, então pediram meia mussarela, meia calabresa e duas taças do vinho da casa. (Para evitar gastar o tempo olhando o cardápio e para evitar gastar dinheiro- o combo estava na promoção por R$19,90, com mousse de chocolate para dois inclusos como sobremesa).
Devoraram a pizza rapidamente (pois o sabor era velho conhecido de ambos), engoliram o vinho. Ela nem olhou para a sobremesa. Já estava satisfeita. Empanturrada de mussarela e calabresa... 
Todo mundo quer ser especial. Ou se acha especial. Todo mundo sabe que na verdade não significa nada mais que troca de fluídos. No meio das esperanças alheias viram-se. Partiram logo cada um para um lado, porque amanhã faz calor e carne não serve mais para nada. Tempo e dinheiro, então combinaram que quando acabasse a pizza iriam para casa. (Para evitar desgastar o tempo olhando a relação e para evitar desgastar o dinheiro- oferecendo tempo e atenção para o outro).
Se despediram rapidamente (protocolo conhecido por ambos), engoliram o choro. Ele nem olhou para ela. Já estava satisfeito.
Empanturrado da sobremesa.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Rota 69 (ou Como Me Tornei Um Rockstar)

Defenestrou o amor.
Desfalece na calçada.
Embriagada agoniza,
solitária.
Mais uma vodka 
e acha a cura.
Jura nunca mais 
encarar a cara de pau
atrás de felicidade
ou um pouco de gozo.
Jura nunca mais
dar a cara a tapa.
Jura nunca mais
dar.
E a lua prateada
ri 
bem na sua cara.
Sabe que a vodka apaga
-as promessas fracas,
a memória,
a noite passada.

Procura as chaves,
não acha.

Vai dormir na sarjeta outra vez...

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

IML

Sopro de vida
Fatalidade
Somos frágeis
Bang bang bang bang
Escorre sangue
Turva o dia
Noite em claro
Esperando entender porque

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Blasé

Derrapo
nas farpas
que solta.
Perco a vez,
mas não
perco a calma.
Mostro
a cara
a tapa.
Seu desafeto
me encara,
balela!
Gira
a Terra,
coisas mudam.
Tudo ocorre
como deveria ser.

Enquanto nãos
e outrossim,
por enquanto,
tanto em mim
deseja.
Plena alma no palco,
que 'é sempre onde estou'*.

Maktub!
Como deveria ser...

*antropofagia da fala de Silvinha Werneck em Cacilda!!!, de Zé Celso.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Resposta

Perto de alcançar o desejo
Paralisa
Treme inteiro
Espera passar um mês e volta
Não importa quanto o queira
Agora é tudo ou nada
Foi dada a largada
A cada passo o passado fica para trás

Tanto faz o medo
Desconsiderado, a coragem é o que resta
Hoje é uma porta
Ontem era fresta
Toma desparalisol em gotas
E anda para frente
Enfrenta o desatino
Agora é tudo ou tudo